domingo, 17 de outubro de 2010

Sardade do Sertão

Poesia ganhadora do concurso SESC/SENAC 2006

Tudo aqui é longe...
O céu,as estrela,os praneta
Só fumaça no á
Difici de si oiá

Vê sol se pô...
Só se fô de avião
Ou entonce trepá no urtimo andá
Lá...Nem pricisa subi no jatobá

As pessoa vevi correndo lá pra cá
Passa pela gente sem cumprimentá
Lá...Fuim late
Se ove Juvenar relinchá

Tô cum sardade do sertão
Da minha enxada Joaninha
Do bode Francisco
Das noite de São João

Tô vivendo aqui qui nem vivia lá
Tô na limpa na capina
Na labuta da rotina
Roçando os quintá

Moço...tudo aqui é ilusão
Trabaio bom
Só pra gente de letra
Camputador,internete

Tô num mundo diferente
Onde tudo é direpente
Chega sem avisá
A curviana dói os osso
Se poca ropa nois usá

Me lembro da grota
Do calor do sertão
Adonde agente baiava pelado
De cuia no cacinbão

Vou juntá um dierinho
Se a bandidage num me levá
Conto os dia conto as hora
Pra esse dia chegá

Sardade machuca agente
Faiz duê o coração
Sei que um dia vou vortá
Pras terra do meu sertão

Sujeito Indeterminado

Eclodiu-se do sêmem sertanejo
Reluziu-se de intento intelecto
Devastou-se caiu enlutou-se
Rastejou-se no vício ébrio
Relutou-se,mas quase perdido...
Encontrou-se sacudiu-se
Dirou todos os sarros
Vestiu-se de amor a si
Prosperou-se edificou-se
Virou exemplo de vida.


Seca

Nesta terra em que se planta tudo dá
Mais uma vez o inverno não veio
E o sertanejo sofre
O pic-pac da enxada
Não se ouve na terra molhada
O sertanejo que antes tinha
O inverno firme e forte vinha
A terra molhava
Fartura brotava
Era tudo alegria
Mas hoje...
Olhando pro céu e rezando
Pedindo pra chuva cair
Não tendo o que comer
Submetendo-se uma cesta ao poder
Há...Sertanejo que tanto pena
E as autoridades que tanto te acena
Certificam-se que há seca no sertão
Mil e uma promessas em vão
Mas o sertanejo não perde a esperança
Da chuva cair
A terra molhar
Fartura brotar
Alegria voltar.

Pensamentos Meus

Admitir o erro é estar certo consigo mesmo

A consciência é o controle de si mesmo

Ser alheio é estar submisso a outro mundo

Olhar o mundo com outros olhos é ver o futuro da humanidade

Coperativismo e a Solidariedade transforma a sociedade

Sentir a natureza é saber que existe um Deus

A fé atravessa a barreira do pessimismo

Ser simples é ser humilde,ser humilde é sempre querer bem a alguém

A humanidade se perde na evolução do capitalismo e do consumismo selvagem

Dizem que dinheiro é a mola do mundo,digo: não sua sustentação

Quando a inspiração funde-se com o pensamento,ambos vencem a barreira do sono e do tempo.O dia amanhece.

Pensar é coisa inerente ao homem,mas,o homem que se diz homem não pensa só em si,
seu bem estar,seu possuir,seu consumir,seu luxar.Homem que se diz homem pensa no próximo mesmo que o próximo esteja tão perto ou tão longe de si.

Amar é sentir a cadência alegre do coração dizer: Amor...amor...amor

terça-feira, 12 de outubro de 2010

O homem que me ensinou a jogar dama

Sempre usava branco ,parecia um médico,um enfermeiro,ou até mesmo um pai de santo,o branco cobria-lhe dos pés a cabeça,quem não lhe conhecia,confundia-se com sua profissão
grande na arte de lhe dá com as mãos,costureiro de fino trato,com boa clientela.Sr.Antônio,ou simplesmente Antôi Daminha,homem de estatura média, olhar baixo,sorriso largo,bom conselheiro das coisas da vida.No jogo de dama era um ás,desafiava seus adversários dando vantagem de duas ou três pedras,mesmo assim ganhava o jogo.Morava e cuidava de sua mãe,uma velhinha de aproximadamente setenta e cinco anos,molgada e corcunda,que se locomovia a passos lentos com ajuda de um pequeno bastão,resmungava pelos cantos da casa,xingava mais do que falava.
Sr. Antôi, era pai de um rapaz que fora para cidade de São Paulo a procura de trabalho,e nunca mais mandou notícias(fruto de seu casamento com Dona Geraldina)que Deus a tenha.
Nas noites,depois de encerrar o expediente,lá fora ,embaixo do poste que iluminava a frente de sua casa,nos finais de semana,na sombra da castanheira,lá estava ele sentado,dama na mão,do outro lado seu adversário ouvindo seus consenhos ,perdendo e aprendendo como colocar as pedras no local certo.E eu ali piruando.Ficava feliz quando ele dizia:"Vai comprar uma carteira de cigarros pra mim moleque!fique com o troco,compre algo útil pra você" Eu saia em disparada rumo a mercearia da esquina,com o troco,comprava cocadas de côco e petecas carambolas,gostava de vê-las rolando na areia e mudando de cores.Era a febre da garotada daquela época.
O tempo foi passando, e com ele,Sr.Antôi aumentando o consumo de tabaco,sua respiração,seu hálito tornara-se pura nicotina,a tosse que lhe rasgava a garganta feria seus pulmões .Homem teimoso em seus temperamentos,recusava-se ao atendimento médico,nunca pisou em um hospital,tinha o pavor do cheiro de éter e medo de injeção.Assim ,as coisas se inverteram.Sua mãe contratou uma moça para cuidar de si e do filho,já prostado em uma cama,sem a mínima condição de levantar-se.Senti sua falta ,seus concelhos ,do jogo de dama,de como colocar as pedras no local certo para chek -mate.Tive o presentimento que algo lhe acontecera,faltava-me coragem para descobrir,de ver uma realidade que eu não queria ver.
Vi pessoas entrando e saindo de sua casa,pessoas que ouviram seus conselhos,que tentaram ganhar-lhe no jogo de dama,que serviam-se de seus serviços;entravam e saiam tristes,cabisbaixos.Criei coragem e fui visitá-lo,entrei em sua casa ,adentrei em seu quarto ,senti um cheiro acre,úmido e azedo,o piso de barro batido estava levemente molhado,logo abaixo ,aos pés de sua cama,havia um pinico cheio de areia,local onde jogava seus escarros e cusparadas.Aproximei-me, vi seu corpo franzino como uma ovelha magra ,sem pasto.Inclinou a cabeça com certa dificuldade,avistou-me,e falou com palavras descompassadas,lentas,interrompidas pela tosse que lhe rasgava a garganta."...Ô.!..muleque..até que enfim veio me visitar.....cof!....cof.!.tô.. morrendo moleque ....cof.!....cof...!lembra de quando falei pra você.....cof.!.....cof!..que a vida cof.!...cof!..é um grande tabuleiro de dama.........................as faixas são os caminhos com cores diferentes,as cores...cof.!..cof !..são os locais onde colocar as pedras,......cof!...cof.!..as pedras são a autodidata,o auto controle de si,...Ô muleque...de que adiantou meus conselhos ?...cof!......cof.!.......se nem eu mesmo soube me controlar...cof!...cof!... deixei-me me levar pelo vicío....Ô muleque ...co!...cof.!..saiba onde colocar as pedras,reflita,aja...faço o que eu lhe digo cof!....cof!......,mas não faça o que eu fiz......Dos meus olhos as lágrimas cairam intensamente,intensificaram ainda mais quando suas pálpebras bateram.
Olhei em minha volta e percebi que não chorava sozinho.O homem que me ensinou a jogar dama ,me deu conselhos para a vida,não deu o chek-mate contra o vício.O câncer lhe consumira.
Não soube mexer as pedras do tabuleiro de sua própria vida.Mas,seus conselhos me salvaram tiraram uma criança da rua ,transformaram um menino num homem trabalhador ,e até hoje estão quardados comigo.

Reflexão

De onde viemos?Para onde vamos?Saõ perguntas que fazemos todos os dias.Sabemos que existimos,logo,sentimos.Muita gente diz que vinhemos cumprir uma missão.Mas,que missão ?
nascer,crescer,aprender a viver,dá de si a outrém o que se aprendeu?.Uma coisa achamos que é certa,quando estivermos nesse plano,temos que fazer bem feito tudo que formos fazer.E quando se vive pela metade,será se a missão se completou pela metade também?.Outra coisa é certa,nem sempre somos competentes no que fazemos,por que somos humanos ,e humanos são falhos em seus fazeres.
O que aconteceu com a professora Joalba não tem explicação! Professora que dirigia tão bem o ensino em sala de aula.De repente se depara com a morte na estrada.Será se foi imprudente no que ainda não era competente?Dirigir automóvel.Será chegada a sua hora? E sua missão estava cumprida?
É difícil se conformar com a perda de uma professora tão querida,de uma pessoa ainda jovem, e em pleno gozo de seus sonhos.Perdemos uma professora que gostava de fazer o que fazia.Educar.
Só nos resta lamentações.Fica com Deus Joalba.